Juntando minha paixão e as circunstâncias da vida, recentemente decidi que o meu caminho estava mesmo no empreendedorismo. Natural, quase óbvio. Afinal, por onde passei nunca adotei postura de funcionária. Sempre estava liderando, ou querendo liderar alguma coisa. De uma maneira natural, quase involuntária, mas trabalhando e me dedicando sempre acima da média, sem querer me dedicar acima da média, apenas me dedicando. Ninguém me pedia isso.
Tive várias promoçōes e váriooooos chefes nas redações pelas quais passei: os jornais DCI, Shopping News, Folha ABC, O Estado de São Paulo e as editoras Globo e Abril. Neste período, fui redatora, repórter, editora, editora-executiva até conquistar o cargo de publisher na Abril, responsável pelas áreas de conteúdo de mais de vinte títulos, publicidade e marketing.
Foram dezessete anos aprendendo com os melhores e compartilhando experiências. Uma ascensão que, confesso, não sei se mereci. Olhando no retrovisor – e aí é sempre mais fácil – acho que o fato de ter a “síndrome da audácia” (me auto-diagnostiquei lendo recentemente um livro que trazia a expressão) explica minha trajetória.
E explica também o fato de, aos 47 anos, topar ser chamada de louca (alguns apenas com o olhar) ao decidir montar uma empresa de mídia, um projeto ambicioso sob diversos aspectos, especialmente no contexto atual do país e do setor. Teria sido infinitamente mais fácil ter aceitado uma das propostas que tive para continuar na vida corporativa.
Mas não quero ter mais um crachá convencional. Gostaria que no crachá da empresa que estou criando em parceria com algumas das melhores cabeças deste mercado todos tenham o mesmo cargo: criadores de conteúdo — e doidos. Gente louca para fazer a diferença.
O dia de hoje (25/03/2019) me enche de orgulho. Há cinco meses venho desenhando de maneira obsessiva a Galápagos Newsmaking. Foram exatos 67 encontros com pessoas das mais variadas áreas (aqui seria injusto citar apenas alguns nomes). Elas me ajudaram a evoluir, dentro do conceito que criei de Jornalismo Evolucionário. E o conceito nasceu da experiência, especialmente dos erros, do que deixei de fazer como profissional e gestora e do que vejo que a imprensa ainda não faz de maneira plena: focar em diversidade, regionalização, transparência, inovação e gente.
Contar histórias de um jeito diferente, focando em gente. Contar histórias de um jeito que faça história. E, especialmente, repensar a lógica da formatação e distribuição de conteúdo.
Produzir informação primária não é fácil. Custa caro. Depende de profissionais qualificados. É o pior produto possível sob o ponto de vista de negócio em tempos de vida em rede. Você investe para apresentar a notícia crível ou um furo jornalístico e, segundos depois, tudo está reproduzido em centenas de lugares, muitas vezes sem o crédito devido. Então, sob o ponto de vista de negócio, seria muito mais inteligente fazer “curadoria” de conteúdo e levar ao usuário um conteúdo organizado, reembalado.
A curto prazo e sob o aspecto financeiro faz sentido. Mas sob a premissa da missão da profissão e impacto para a sociedade, o efeito é zero. É triste, mas real (pode-se discutir se merecidamente ou não) a perda gradativa de recursos, relevância e credibilidade da mídia tradicional.
Quem resistirá e quem nascerá perseguindo o propósito do jornalismo? Informação é necessidade humana básica. Ela nos empodera e nos ajuda a aprender e decidir. Não se trata de clichê. A imprensa é a luz da liberdade, quer alguns queiram ou não. E como ainda não inventaram um remédio para combater a “síndrome da audácia”, sigo doente, acreditando que a Galápagos e as marcas que estarão sob seu guarda-chuva podem ajudar a cumprir este papel.
Mas para qualquer viagem dar certo e chegarmos ao destino desejado, não basta um capitão com síndrome de audácia. Precisamos de tripulação qualificada, rota bem definida, tecnologia e vários modelos de receita que juntos nos tornem sustentáveis. Isso teremos.
A primeira iniciativa da Galápagos é um curso de capacitação para interessados em comunicação. Foi incrível (veja aqui).
O nosso maior desafio, entretanto, é conquistar e engajar você com conteúdos que acima de tudo sejam úteis. Com audácia, mas especialmente humildade, peço a sua confiança. Peço a sua audiência, a sua companhia e a sua opinião nesta jornada que será extremamente apaixonante e desafiadora.
Sugestões, desejos de boa sorte, possibilidade de parceria? ale@galapagosnews.com.br